nunca vou te abandonar Quando o Corinthians caiu para a segunda divisão dk o campeonato nacional, em 2007, houve quem imaginasse que se iniciava ali uma era de crise para o clube do Parque São Jorge. Bem, foi exatamente isso o que aconteceu, só que, para um corinthiano, a palavra “crise” tem um sentido inverso àquele a que todas as outras torcidas estão acostumadas. No Corinthians, a crise não é uma oportunidade para crescer; ela é o próprio crescimento.
Não tenho certeza se isto está relacionado à vocação masoquista de todo corinthiano, a essa necessidade que ele tem de sofrer pelo time, mas é preciso reconhecer que a perversão veio bem a calhar. É de conhecimento geral que o corinthianismo é uma doença, e, como tal, precisa de um ambiente ruim e mal tratado para se desenvolver. Traduzindo para o ambiente futebolístico, isso significa que o Corinthians precisa da derrota para se manter, ou melhor: a derrota está para um corinthiano assim como a vitória está para qualquer outro torcedor.
Você deve estar se perguntando como um torcedor pode querer o mal do seu próprio time. A questão é paradoxal mesmo, e eu não vejo uma figura melhor para representar a essência do corinthiano do que a mulher do malandro. Essa senhora não é capaz apenas de agüentar todo o tipo de agressão do parceiro. Ela consegue amá-lo apesar de tudo.
Ainda que ele passasse mais de 20 anos sem lhe dar um único presente ou que suas presepadas os forçassem a se mudar dos Jardins para o Capão Redondo, ela lhe continuaria fiel. Para aqueles que acham que é pouco, ela vive por ti, malandro.
Eu não estou dizendo que o torcedor alvinegro vai ao estádio para secar o seu time; muito pelo contrário. Acredito que o corinthiano deixa sua casa rumo ao Pacaembu com o intuito de empurrar a equipe para a vitória. Só que lá no fundo, num canto escondido de sua alma, doutor, eu não me engano, o coração corinthiano clama por uma derrota; e está disposto a aceitar, no máximo, uma vitória sofrida – tudo isso enrustido, naturalmente, escondido debaixo da asa de um gavião.
É por essas e outras que, para jogar no Corinthians, o atleta não precisa ser craque. Basta mostrar alguma atração pelo sofrimento, distribuir carrinhos pelo campo, tentar evitar arremessos laterais inevitáveis, jogar no sacrifício, e por aí vai. E como essa torcida fica feliz por poder protestar quando identifica um atacante fazendo corpo mole!
O corinthiano gosta de raça, mano; e, acredito eu, se um jogador da sua equipe mostrasse algum empenho na tentativa bem sucedida de marcar um gol contra, a Fiel, finalmente livre da âncora moral que a impede de desabrochar, explodiria em aplausos eufóricos, revelando ao mundo sua verdadeira vocação paradoxal para o sofrimento.
Por tudo isso, eu digo que o ano de 2008 inaugura a época mais profícua em décadas para a torcida do Corinthians. Disputar a segunda divisão é o martírio mais prazeroso que um corinthiano poderia pedir a São Jorge, e a condição perfeita para a disseminação do corinthianismo pelo país. Neste momento, a torcida alvinegra se expande descontroladamente.
A parceria duvidosa com a MSI foi um golpe de mestre da diretoria corinthiana. Ali tem um bando de louco, mas eles não são bobos, não. Eles sabem que o corinthiano precisa sofrer. E, ao que tudo indica, o discutível título do campeonato nacional de 2005 foi premeditado exatamente para aumentar a dramaticidade do rebaixamento que viria dois anos depois.
O que eu quero dizer, no final das contas, é que o torcedor do Corinthians está sempre satisfeito, apesar de se mostrar contrariado mesmo nas vitórias. Acreditem, é só charme. Por mais que tente esconder, o corinthiano sempre sai ganhando; principalmente quando perde.
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Não tenho certeza se isto está relacionado à vocação masoquista de todo corinthiano, a essa necessidade que ele tem de sofrer pelo time, mas é preciso reconhecer que a perversão veio bem a calhar. É de conhecimento geral que o corinthianismo é uma doença, e, como tal, precisa de um ambiente ruim e mal tratado para se desenvolver. Traduzindo para o ambiente futebolístico, isso significa que o Corinthians precisa da derrota para se manter, ou melhor: a derrota está para um corinthiano assim como a vitória está para qualquer outro torcedor.
Você deve estar se perguntando como um torcedor pode querer o mal do seu próprio time. A questão é paradoxal mesmo, e eu não vejo uma figura melhor para representar a essência do corinthiano do que a mulher do malandro. Essa senhora não é capaz apenas de agüentar todo o tipo de agressão do parceiro. Ela consegue amá-lo apesar de tudo.
Ainda que ele passasse mais de 20 anos sem lhe dar um único presente ou que suas presepadas os forçassem a se mudar dos Jardins para o Capão Redondo, ela lhe continuaria fiel. Para aqueles que acham que é pouco, ela vive por ti, malandro.
Eu não estou dizendo que o torcedor alvinegro vai ao estádio para secar o seu time; muito pelo contrário. Acredito que o corinthiano deixa sua casa rumo ao Pacaembu com o intuito de empurrar a equipe para a vitória. Só que lá no fundo, num canto escondido de sua alma, doutor, eu não me engano, o coração corinthiano clama por uma derrota; e está disposto a aceitar, no máximo, uma vitória sofrida – tudo isso enrustido, naturalmente, escondido debaixo da asa de um gavião.
É por essas e outras que, para jogar no Corinthians, o atleta não precisa ser craque. Basta mostrar alguma atração pelo sofrimento, distribuir carrinhos pelo campo, tentar evitar arremessos laterais inevitáveis, jogar no sacrifício, e por aí vai. E como essa torcida fica feliz por poder protestar quando identifica um atacante fazendo corpo mole!
O corinthiano gosta de raça, mano; e, acredito eu, se um jogador da sua equipe mostrasse algum empenho na tentativa bem sucedida de marcar um gol contra, a Fiel, finalmente livre da âncora moral que a impede de desabrochar, explodiria em aplausos eufóricos, revelando ao mundo sua verdadeira vocação paradoxal para o sofrimento.
Por tudo isso, eu digo que o ano de 2008 inaugura a época mais profícua em décadas para a torcida do Corinthians. Disputar a segunda divisão é o martírio mais prazeroso que um corinthiano poderia pedir a São Jorge, e a condição perfeita para a disseminação do corinthianismo pelo país. Neste momento, a torcida alvinegra se expande descontroladamente.
A parceria duvidosa com a MSI foi um golpe de mestre da diretoria corinthiana. Ali tem um bando de louco, mas eles não são bobos, não. Eles sabem que o corinthiano precisa sofrer. E, ao que tudo indica, o discutível título do campeonato nacional de 2005 foi premeditado exatamente para aumentar a dramaticidade do rebaixamento que viria dois anos depois.
O que eu quero dizer, no final das contas, é que o torcedor do Corinthians está sempre satisfeito, apesar de se mostrar contrariado mesmo nas vitórias. Acreditem, é só charme. Por mais que tente esconder, o corinthiano sempre sai ganhando; principalmente quando perde.
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